Adeus, MP3 player genérico!

Desde o meu primeiro, ele sempre me acompanhou. Nas idas ao meu antigo trabalho e no horário de almoço. Dos passeios à casa de parentes às viagens para minha cidade natal.

Incorporei a música em minha vida.

Meu MP3 player me deu a trilha sonora de eventos diversos e, mesmo hoje, posso me lembrar de lugares, pessoas, cheiros e sentimentos bastando ouvir a música certa que me leve outra vez lá.

Não tinha uma marca que fosse grande coisa, mas cumpria com seu papel de prover música e transportar arquivos. Já me livrou a cara várias vezes quando minha impressora não tinha tinta e eu precisava imprimir alguma coisa. Me apresentava semanalmente à novas bandas, garimpadas no território da internet. Me trouxe Strokes (que volto a ouvir enquanto escrevo isto), The
Killers, Arctic Monkeys, Bloc Party, Editors, QOTSA, Muse, Supergrass, etc., uma lista quase interminável.

Por fim, ele se foi há alguns meses. Perdi uma parte sua (aquela que segura a pilha atrás) e para não ter que andar por aí com um pedaço de fita isolante grudado nele, resolvi comprar outro e doá-lo a um amigo meu... Veio o arrependimento!

"1Gb e custa só isso?"

No display escrito: Sony, mas os botões pareciam invertidos... não era Sony, não importava. Era novo e barato.
Me ferrei!
Problemas no firmware ou coisa que o valha:

"Eu mesmo resolvo isso!" - pensei.

Passou a garantia.

"Agora tá funcionando bem!"

Mas não conseguia resolver os problemas anteriores e, de repente, as músicas paravam sem chegar aos seus finais (sempre na melhor parte!).

Senti o impulso de atirá-lo no chão várias vezes, mas fui tolerante...

"Deve ser a pilha!"

E, de fato, hoje, a pilha descarregou toda enquanto eu caminhava pelo centro da cidade.
Me senti sozinho e desprotegido.
Comprei novas pilhas, descartáveis, não as recarregáveis que sempre uso (para não dizer que não trato bem dele!).
Mas mesmo com pilha nova, me abandonou.
Na volta para casa, dentro do ônibus, a intensidade do som interno, volume 31, foi quebrada pelo ruído externo de seres humanos, seus risos e discussões.

Foi a última vez!

Atirei-o pela janela com pilha e tudo, num ato políticamente incorreto (fato isolado) mas que me encheu de satisfação!

Desprendimento material, irresponsabilidade ou o que quer que seja, me lembrei de um amigo, o vocalista da banda que mencionei há algum tempo, Rennan: Nos tempos do Ensino Médio ele atirou seu violão pela janela do primeiro andar por causar constantes irritações. Aposto que se sentiu tão bem quanto eu agora! "Por que não deu pra mim???", eu disse, mas agora entendo que ele não quis passar para mim as mesmas dores de cabeça que ele mesmo teve.

Vou escolher bem o terceiro modelo. Assim que terminar de pagar esse...